Uma gata que homenageia o feminino

""O cancro da mama não é uma fitinha cor-de-rosa!"

Esta é a frase da fotografia do "Scar Project", em português "Projecto Cicatriz".

Este caso é o meu tributo ao feminino que já viveu e conviveu com esta doença.

O cancro da mama é uma doença que continua a ser a principal causa de morte das mulheres entre os 35 e os 55 anos. 

Ocorre tanto em mulheres humanas como noutras espécies animais surgindo em clínica com muita frequência gatas e cadelas com tumores de mama. 

Conheci várias senhoras que tiveram cancro de mama e todas as gatas que passaram pela sua vida apresentavam sempre essa doença também. Nas gatas, cerca de 95% dos tumores de mama são malignos e a quimioterapia ainda não é conclusiva para tratamento resolutivo do problema.

Há uns anos anos atrás, estava a passear numa rua de Lisboa e vi um carro a alta velocidade a lançar uma gata por um dos vidros de trás. Não quis acreditar no que estava à minha frente! 

Aproximei-me e a gata estava confusa e assustada com aqueles trambolhões que tinha dado. Reparei de imediato que estava com diversos tumores de mama.

Peguei na gata e dei-lhe o nome de SURVIVER! 

A Surviver estava em muito mau estado, os tumores deviam existir há anos mas apesar disso tentei operá-la e fiz o melhor que pude.

Nessa altura estava também rodeada de mulheres amigas a lutar contra esta doença e atendia, com uma frequência acima do normal, animais com esse problema.

Criei um nome para o padrão emocional que se repetia em todas as mulheres com este problema -“Mamã à força”. 

A “mamã à força” é uma mulher que abdica das suas necessidades constantemente em prol de quem ama, quer proteger tudo e todos mas não sente que consegue, tem uma elevada auto-exigência e uma extrema necessidade de controlar quando pensa estar apenas a cuidar dos outros.

São mulheres que têm de aprender a aceitar os seus limites e a dizer não, a verbalizar as suas necessidades e angústias, a não esconder no seu peito a mágoa profunda de quem as magoou ou as traiu... 

São mulheres que têm de aprender que a compaixão tem de começar em si, que o perdão começa por si própria. São mulheres amorosas que devem aprender que não erraram só porque não são suficientemente perfeitas segundo os seus ideais. Para se libertarem, devem aprender a auto-afirmação, a reivindicarem uma autoridade própria, tomando decisões que revelem o seu próprio poder.

Os seios são o espelho da nutrição interior e exterior. 

Refletem o equilíbrio entre DAR e RECEBER. 

A mensuração da verdadeira liberdade emocional ! 

Tudo o que semeamos, colhemos e só recebemos se dermos.

Mas quando damos, ainda controlamos o que damos… E quando recebemos, vulnerabilizamo-nos e no caminho enchemo-nos de expectativas que criam apego e dependência a um resultado específico…

O resultado é que poucos humanos sabem receber verdadeiramente. 

Há outros que só sabem receber e não sabem dar!

Mas o caminho faz-se caminhando até à união dos opostos na identidade plena de ser mulher, que é ser… tudo!" 

(in Conversas com Animais)

A Surviver salvou uma pessoa de ter, ela própria, um cancro de mama.

Relembrou-me mais uma vez que os humanos estão muito longe do amor incondicional.

Mas também me relembrou que os animais nunca desistem de nós!