quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Animais e Autismo - a relação que devolve a Voz


Neste Natal ofereceram-me o livro "A minha gata Jessi".
Li-o em 3 horas e percebi que seria oportuno escrever aqui sobre estas duas áreas a que me dedico já há alguns anos - os animais e as crianças especiais, em especial crianças com problemas de comunicação.




O livro conta a história de um menino britânico chamado Lorcan com mutismo seletivo (um déficit nas competências sociais e que posteriormente foi diagnosticado como autista) e a sua gata Jessi, de raça birmanês. 





A ligação extraordinária entre Lorcan e Jessi foi imediata e com ela este menino começou a expressar as suas emoções e a superar o medo de comunicar publicamente como até antes nunca havia feito!




Já não é novidade e está mais que provado que incluir um animal de estimação no ambiente familiar de crianças com perturbações do foro autista ajuda-as a desenvolver as aptidões sociais. 
Contudo agora interessa-me olhar e interpretar esta linda história sob um ponto de vista mais espiritual que psicoterapêutico.

Segundo a mãe de Lorcan, que escreveu este livro, ele era um "menino excessivamente fascinado por exércitos e guerras mundiais. Somente brincava às batalhas, atacando e derrubando, e adorava vestir-se de soldado. Insistia em comprar somente espadas e a sua gata era anunciada como o seu cavalo fiel. O seu fascínio era de facto tal que o cartão oferecido no dia da mãe era o desenho de um soldado com arma!"
Podemos ver este comportamento como uma mera e casual particularidade aparentemente comum a uma criança do sexo masculino. Porém, aos olhos de quem acredita em reencarnação, torna-se perceptível que este menino já fora, no passado, um soldado.
A nível emocional a mãe reporta no livro as "mudanças repentinas de humor, onde não havia meio termo emocional, uma auto expressão exuberante somente com os familiares (gritava e falava muito alto), uma grande dificuldade de se colocar no lugar do outro, uma incapacidade de sentir a dor ou a indisposição dos outros." A mãe partilha que certa vez "ela caiu pelas escadas e o irmão de Lorcan foi ver o que se passava mas Lorcan continuou a jogar no ipad, o que a chocou."
"A inexistência de empatia com o outro (ou pelo menos a expressão dessa empatia) e a dificuldade em interpretar as intenções dos outros é considerado normal" nas perturbações do espectro autista.  
Num contexto de reencarnação também é fácil compreender que se o menino já fora um soldado que combateu numa vida passada, todos estes comportamentos são então expectáveis segundo esse "registo" celular.   




A mãe de Lorcan tem um filho mais velho com semelhante diagnóstico (Asperger) e tudo isto estava a ser uma enorme aprendizagem e duplo desafio. 


Ajudou-a muito ler o livro "Todos os gatos têm Síndrome de Asperger" e como já adorava gatos, eles tornaram-se uma presença familiar permanente pois também é conhecido que muitas pessoas com Asperger coabitam com gatos.


"A gata Jessi surge na familia após a morte de uma outra gatinha" que somatizou os medos  familiares com uma insuficiência renal. 
O compromisso de união e auxilio entre ambos foi feito de imediato (explico esse tema no meu livro "Conversas com animais") e devido a isso "a Jessi seguia o Lorcan para todo lado, ficava ao seu lado mesmo quando ele gritava sendo um animal especialmente tolerante e calmo." 
Assim como Lorcan era com ela. 
" Lorcan contava sempre o seu dia à Jessi e pela primeira vez conseguiu expressar o seu amor com um ser dizendo-lhe: "Amo-te Jessi, és a minha melhor amiga"", olhando fundo nos seus olhos azuis felinos.
Se estava comprometida com Lorcan, era um espelho dele. Por isso esta gatinha tinha "um miar muito alto, não dormia muito e acabava por deambular pela casa e "torturava" a cadela da família." Tal como Lorcan.


Os feitos da Jessi são inúmeros! 
Lorcan aprendeu a expressar as suas emoções, aprendeu a sorrir, a ter mais confiança, a cuidar de outro ser, a colocar as necessidades do outro à frente das dele, a conversar e a partilhar pois a Jessi sempre escutava e miava de volta, e finalmente conseguiu subir a um palco num anfiteatro e discursar. 
Antes da Jessi tudo isto era impossível pois Lorcan era "desligado das pessoas, não gostava de carinho, não sentia empatia e permanecia num percurso de pequenos progressos e grandes retrocessos na escola".

Termino com aquela que considero a frase de ouro do livro, citada pela criadora da Jessi na "Birman Cat Club Magazine":









"Os gatos têm verdadeiramente uma alma e parecem saber o que lhes é pedido. Jessi e Lorcan são, sem dúvida, Almas Gémeas."











*Nota: 
Neste texto foi colocado entre aspas a transcrição integral de descrições feitas pela mãe do Lorcan ao longo do livro "A minha gata Jessi". A interpretação espiritual é minha e feita de acordo com o trabalho que desenvolvo com os animais e crianças especiais.

Profundamente grata a esta linda família por partilhar uma história difícil mas com um final tão feliz e cheio de esperança!

1 comentário:

  1. Querida Marta
    Muito obrigada por esta partilha! Este livro deve ser maravilhoso e estes temas fazem muito eco no meu coração. Trabalhar algumas horas com jovens com problemas é muito enriquecedor, eles ensinam a gratidão e o amor com todo o desapego e alegria que possa imaginar. Acho que vou adorar este livro.

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